quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

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Que eu errei em alguma parte do processo é indiscutível, só estou ligando pela quinta vez porque quero saber mais ou menos onde foi. Talvez eu não tenha me dado conta que no segundo refrigerante na praça nosso relacionamento já havia caído num marasmo, mas você podia ter falado comigo, eu daria um jeito de ter querido suco de laranja ou, quem sabe, poderíamos buscar algum aconselhamento para casais atravessando a crise dos sete dias - com tantos amores não passando da primeira semana, já deve existir algum especialista na área.

Mas eu segui em frente, por mim e por nós dois. Comecei a fingir que você estava ali ainda, cozinhando alguma coisa no seu fogão bacana enquanto cantarolava Al Green e eu passava os 109 canais no seu sofá, com a cara de tédio que nasceu comigo. Eu até falo contigo, como se você fosse minha samambaia. Parece triste, mas ficou mais fácil e confortável assim. Ficou perfeito, na verdade. Porque você foi perfeito até onde soube responder meu chamado, e continuou perfeito nas minhas utopias.

Existem aqueles dias radiantes que a gente acha que sente que chegou a hora. Só que na maioria deles, a realidade tem preguiça de superar os sonhos mágicos desse meu coração, esse que também serve de depósito para restos de amores que me acertam de raspão. Olha, não sei qual dói mais. Quando acaba, quando sentimos que acabou, ou quando a gente precisa cair na real que acabou e já faz tempo.

NUNES, Gabito. Trecho de Raspas e restos.

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