terça-feira, 27 de dezembro de 2011

01h35



"Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido." (Pablo Neruda)


- Sabe? A maior besteira que fazemos com nós mesmos e com quem amamos, é colocar nas mãos dessas pessoas a nossa felicidade. Como podemos olhar para dentro e em volta de nós, e cometermos o pecado de achar que temos pouco, quando, na verdade, temos plena consciência de que temos tudo o mais de que precisamos?
- Às vezes, esse 'tudo' não foi feito pra você. Há um abismo entre a cabeça e o coração. No peito não cabe bom senso.
- Ninguém pode nos amar mais do que nosso próprio coração, e tampouco podemos amar a outrem mais do que a nós mesmos.
- Você acha mesmo que não é possível amar alguém mais do que a nós mesmos?
- Digo-lhe que acho, sim. Mostre-me um amor isento de expectativas e talvez eu pense diferente. Porque, no fundo, o que desejamos com o amor não é simplesmente 'amar'; é, principalmente, satisfazer a nós mesmos e com isso dizermo-nos felizes.
- Não tente entender. Nisso, não há lógica. Você não vai pensar diferente porque não há amor sem expectativas. 'Amar' requer reciprocidade, e somos humanos demais para entender que, de amor mesmo, nada se exige.
- Lógica alguma, realmente não há. E agora estou envolta em pensamentos desconexos que pouco dizem. Hoje, apenas não sei.
- O amor é escorregadio, mas não foge dos limites do coração. Vai doer mais um pouco, mas deixe o sangue escorrer. Hoje, não saiba. Só sinta.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

XIII


Conversando com um amigo sobre as circunstâncias nefastas da vida, lembrei de que tudo está passível de escolha. Falando disso, lembrei ainda da alegoria da Morte. Quando praticava a Cartomancia, era sempre surpreendente a aparição dessa carta no jogo, especialmente porque em minhas frequentes auto-consultas, esse arcano fazia questão de dar o ar de sua graça.
O arcano XIII do tarot de Marselha é representado pela personificação da Morte, uma figura descarnada, segurando uma foice e que caminha sobre um campo de corpos despedaçados. A visão forte da foice cortando a perna do esqueleto apenas ilustra o tamanho da dor de ter que tomar uma decisão importante, ou mesmo a dificuldade de se escolher entre dois caminhos aparentemente indissociáveis. Essa alegoria também representa a transformação, ainda que a partir de uma destruição. Para ela, é preciso perder para ganhar.
A Morte é justa e niveladora, e isso é um tanto difícil de compreender. Quando falamos dela, lembramos da dor, mas esquecemos da libertação. Assim como Cronos, o deus do Tempo, ela poda as árvores para que novos galhos nasçam. É o momento da reavaliação, da conformidade com o término de algo que tinha dia e hora pra acabar. É dia de ter que decidir, mesmo que a dor seja excruciante, antes que o tempo e a hesitação retirem o poder de escolha. É o tempo de brincar de Morte, pegar a foice, cortar a própria perna e esperar a recompensa.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Duo





- Tudo... Tem que estar, não é? E você?
- Tudo bem comigo... Tem que estar, não é? (risos)
- (risos) Por que tem que estar?
- Porque ficar mal não dá!
- É verdade. Engraçado...
- O quê?
- A gente fica mal porque quer, não é?
- É...
- Se for pensar direito, é tudo uma questão de se deixar levar pela dor... É como ter fé ou não.
- É... Eu não me permito entregar à dor. Dói, mas passa.
- Às vezes, eu me entrego.
- Eu sei.
- Tenho muitas teorias, mas sigo algumas ou por preguiça, ou por esperar que seja natural.
- Às vezes não se consegue fugir da dor. Mas ela não me pega por muito tempo, a não ser que seja uma exceção. Há dores que doem mais...
- Acho que não estou muito bem. Estou divagando demais...
- Não está bem como assim?
- Não estou bem fisicamente... Mas acho que minha alma anda meio carregada.
- Carregada de quê? De dores?
- Sei lá... Acho que é porque quero levar a vida do jeito que quero.
- E aí você está vendo que do jeito que quer não dá...?
- Não é que não dê. Mas não gosto da ideia de ter que seguir do jeito que a vida quer.
- Hum... Entendo bem o que quer dizer.
- Mas eu sou meio insistente.
- Eu acredito nisso.
- Pois é.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma aprendizagem





(...)
A urgência é ainda imóvel mas já tem um tremor dentro. Lóri não percebe que o tremor é seu, como não percebera que aquilo que a queimava não era o fim da tarde encalorada, e sim o seu calor humano. Ela só percebe que agora alguma coisa vai mudar, que choverá ou cairá a noite. Mas não suporta a espera de uma passagem, e antes da chuva cair, o diamante dos olhos se liquefaz em duas lágrimas.
E enfim o céu se abranda.
Lóri ligou o número de telefone:
— Não poderei ir, Ulisses, não estou bem. Houve uma pausa. Ele afinal perguntou:
— É fisicamente que você não está bem?
Ela respondeu que não tinha nada físico. Então ele disse:
— Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranqüilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.
(...)

Clarice Lispector - Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Revés




Consagro-te todo o meu tempo 
porque ocupa-me todo o coração.

"Consagra-me todo o seu tempo porque ocupo-lhe todo o coração." (Victor Hugo)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Infinito Plus




"Como é horrível a ideia do nada. Quanto se deve lamentar aqueles que creem que a voz do amigo que chora seu amigo se perde no vazio e não encontra nenhum eco para lhe responder. Jamais conheceram as puras e santas afeições, aqueles que pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio que iluminou o mundo com a sua vasta inteligência é um jogo da matéria que se extingue para sempre, como um sopro; que do ser mais querido, de um pai, de uma mãe ou de um filho adorado, não resta senão um pouco de pó que o tempo dissipa para sempre.
Como um homem de coração pode permanecer frio a esse pensamento? Como a ideia de um aniquilamento absoluto não lhe gela de pavor e não lhe faz ao menos desejar que não seja assim?
(...)"
Allan Kardec

Amo você, amigo! A gente se vê.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Infinito



"Que vosso coração não se turbe. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, eu já vos teria dito, porque eu me vou para vos preparar o lugar e depois que eu tenha ido e que vos tenha preparado o lugar, eu voltarei e vos retomarei para mim, a fim de que lá onde eu estiver aí estejais também."

João, Capítulo XIV, v. 1, 2, 3.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Más una canción desesperada





Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tremem, azuis, os astros, ao longe."

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.

Em noites como esta a tive entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não haver amado seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai à alma como ao pasto o orvalho.

Que importa que meu amor não pôde guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para aproximá-la minha alma a busca.
Meu coração a busca, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é certo, mas quanto a quis.
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, mas talvez a queira.
É tão curto o amor, e é tão comprido o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive entre meus braços,
minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.

"Puedo escribir los versos más tristes esta noche"
Pablo Neruda

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vontade



Nossas bocas unidas
Nossas línguas
Um sino
E dois badalos.

Meio-dia na Sé
Alessandra P. Caramori

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Imagine

Para os meus amigos voadores... Aqueles que amam o romântico...

A incapacidade de ser verdadeiro
Carlos Drummond de Andrade

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu  levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

CARTA

CARTA DE LUDWIG VAN BEETHOVEN PARA A SUA "AMADA IMORTAL"

Bom dia, em 7 de julho

Mesmo antes que eu me levante, meus pensamentos se dirigem a ti, minha Amada Imortal, às vezes com alegria, às vezes com tristeza, à espera de que o destino nos escute. Só posso viver totalmente contigo ou não viver. Sim, decidi errar por lugares distantes até poder voar para teus braços e me sentir em casa contigo e poder enviar minha alma cercada de ti para o reino dos espíritos. Sim, lamento, deve ser assim. Irás superá-lo com mais facilidade sabendo da minha fidelidade a ti; outra jamais poderá se apossar de meu coração, jamais! Oh, Deus! Por que precisamos estar separados daquilo que amamos, e no entanto a vida que estou levando em W. é miserável. Teu amor fez de mim o mais feliz dos homens, e o mais infeliz. Na minha idade, é preciso ter alguma continuidade, uma vida estável. Será que isso é possível numa situação como a nossa? Meu anjo, acabo de saber que a correspondência é remetida diariamente, portanto, preciso encerrar para que possas receber esta carta imediatamente. Fica tranquila, ama-me hoje e ontem.
Em lágrimas, anseio por ti, minha vida, meu tudo, adeus. Oh! Não deixes de me amar e jamais duvides do coração mais fiel
do teu amado
L.
Para sempre vosso
Para sempre minha
Para sempre nosso.