Conversando com um amigo sobre as circunstâncias nefastas da vida, lembrei de que tudo está passível de escolha. Falando disso, lembrei ainda da alegoria da Morte. Quando praticava a Cartomancia, era sempre surpreendente a aparição dessa carta no jogo, especialmente porque em minhas frequentes auto-consultas, esse arcano fazia questão de dar o ar de sua graça.
O arcano XIII do tarot de Marselha é representado pela personificação da Morte, uma figura descarnada, segurando uma foice e que caminha sobre um campo de corpos despedaçados. A visão forte da foice cortando a perna do esqueleto apenas ilustra o tamanho da dor de ter que tomar uma decisão importante, ou mesmo a dificuldade de se escolher entre dois caminhos aparentemente indissociáveis. Essa alegoria também representa a transformação, ainda que a partir de uma destruição. Para ela, é preciso perder para ganhar.
A Morte é justa e niveladora, e isso é um tanto difícil de compreender. Quando falamos dela, lembramos da dor, mas esquecemos da libertação. Assim como Cronos, o deus do Tempo, ela poda as árvores para que novos galhos nasçam. É o momento da reavaliação, da conformidade com o término de algo que tinha dia e hora pra acabar. É dia de ter que decidir, mesmo que a dor seja excruciante, antes que o tempo e a hesitação retirem o poder de escolha. É o tempo de brincar de Morte, pegar a foice, cortar a própria perna e esperar a recompensa.
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