segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

XIII


Conversando com um amigo sobre as circunstâncias nefastas da vida, lembrei de que tudo está passível de escolha. Falando disso, lembrei ainda da alegoria da Morte. Quando praticava a Cartomancia, era sempre surpreendente a aparição dessa carta no jogo, especialmente porque em minhas frequentes auto-consultas, esse arcano fazia questão de dar o ar de sua graça.
O arcano XIII do tarot de Marselha é representado pela personificação da Morte, uma figura descarnada, segurando uma foice e que caminha sobre um campo de corpos despedaçados. A visão forte da foice cortando a perna do esqueleto apenas ilustra o tamanho da dor de ter que tomar uma decisão importante, ou mesmo a dificuldade de se escolher entre dois caminhos aparentemente indissociáveis. Essa alegoria também representa a transformação, ainda que a partir de uma destruição. Para ela, é preciso perder para ganhar.
A Morte é justa e niveladora, e isso é um tanto difícil de compreender. Quando falamos dela, lembramos da dor, mas esquecemos da libertação. Assim como Cronos, o deus do Tempo, ela poda as árvores para que novos galhos nasçam. É o momento da reavaliação, da conformidade com o término de algo que tinha dia e hora pra acabar. É dia de ter que decidir, mesmo que a dor seja excruciante, antes que o tempo e a hesitação retirem o poder de escolha. É o tempo de brincar de Morte, pegar a foice, cortar a própria perna e esperar a recompensa.

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